Triste fim de quem pretendia se eternizar no poder
Ricardo Noblat
Um dos ouvidos de Bolsonaro foi alugado por vozes que o aconselham a invocar o artigo 142 da Constituição, que define o papel das Forças Armadas; o outro, por vozes que o instigam a deixar o Brasil às pressas sob pena de, perdida a imunidade que o cargo lhe oferece, arriscar-se a ser preso de uma hora para a outra.
“As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.”
O Supremo Tribunal Federal já disse que isso não significa que as Forças Armadas estejam autorizadas a restaurar a ordem pública, tampouco a contestar o resultado de eleições. Seu papel é defender a democracia e suas instituições se elas forem ameaçadas. Mas Bolsonaro e a maioria dos militares não pensam assim.
Quanto ao risco de Bolsonaro ser preso, as tais vozes que o advertem para isso têm razão. Ele responde a mais de uma dezena de processos. E alguns deles serão enviados pelos tribunais superiores para a primeira instância da justiça. Foram juízes da primeira instância que prenderam Lula e Michel Temer.
Bolsonaro não invoca o artigo 142 porque sabe que não teria apoio militar para dar o golpe, só daria motivo para ser preso mais rapidamente. Então, só lhe resta a porta de saída: a Base Aérea de Brasília, de onde decolará para ir morar nos Estados Unidos em uma casa cedida por um fazendeiro brasileiro que o admira.
Diz que ficará por lá apenas 2 ou 3 meses para se recuperar da estafa. Que estafa? Jamais pegou no pesado, nem como deputado federal nem como presidente da República. O gosto pelo trabalho ele não tem, nunca teve. Por diversão, homenagens que lhe prestavam, comícios onde pontificava, sempre teve, e sentirá falta.
À época de militar, já foi preso por 15 dias e não gostou. Não voltará ao Brasil tão cedo. A não ser se lhe derem certeza de que não será preso. E de que nenhum dos seus filhos será.